sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

III. RECONHECENDO AS DORES DA ALMA

Dores da alma, emocionais e afetivas




Confundem-se dor emocional ou afetiva com as dores da alma. Em ambas não se consegue identificar a ocorrência de lesões materiais, morfológicas ou estruturais. As dores da alma podem resultar em alterações do comportamento ou ainda modificar condições emocionais ou afetivas, estas frequentemente influenciadas pela dor crônica.

As dores da alma, embora intercorrências da vida, evoluem direcionadas a interferir na evolução espiritual do homem. Testemunhas silenciosas do sofrimento na luta contra os obstáculos íntimos, educam, moldam e forjam o comportamento do Homem na construção de seu próprio destino.

A inadequação do espírito humano à insensibilidade, ignorância, inexperiência e ao inconformismo é uma realidade que pode gerar uma desestruturação íntima, frequentemente compondo as raízes do sofrimento. Sementes que frutificam em dores da alma.

A doutrina espiritualista admite dentro da concepção de alma doente ou com dor o resultado de várias experiências de vida sucessivamente acumuladas, constituindo um padrão de evolução espiritual maior ou menor, no qual a dor pode ser o instrumento mais comum de progressão na escalada do espírito.

No Brasil a figura ímpar de Francisco Cândido Xavier – o Chico Xavier- assumiu durante anos o compromisso,através de vasta obra psicografada,a divulgação do espiritualismo em toda a plenitude de seus ensinamentos e dogmas quase nem sempre esclarecidos. Desde que as mentes estejam abertas para o novo ou para o imponderável, as dores da alma podem ser melhor entendidas e abordadas quando interpretadas através da luz espiritualista.





Chico Xavier

Os ensinamentos psicografados de Hammed conjugam conceitos de psicologia inseridos nessa doutrina. Através deles as dores da alma podem resultar de diferentes níveis de sofrimento, alguns decorrentes de condições individuais associadas ao comportamento diário. Assim- - as privações dos enfermos, seja em enfermarias comunitárias, seja em apartamentos privativos; - a escassez dos necessitados sem teto, nas ruas ou nas comunidades carentes; - o anônimo e os conflitos morais ou a celebridade e os conflitos afetivos.

Todos de alguma maneira sofrem; - sofre o insignificante ante a falta de importância; - sofre o notável, o político e o administrador público perdido nas tramas do poder; - sofre a mãe milionária ou paupérrima pelo destino dos filhos; -sofremos quando, preconceituosos, nos recusamos a aceitar novas experiências e idéias.

Sofremos ainda quando não aceitamos a natureza da fragilidade e a irrelevância de todos nós; - ou quando a rigidez de nossos pretensos princípios gera a inflexibilidade e estagnação de nossos conceitos mais íntimos.

Sofremos principalmente quando a voz interior não é levada em consideração, permanecendo sepultada em nossos corações; ou quando o apego doentio refuta o amor incondicional.

Sofre também quem assimila o conflito como parte integrante de seu eu interior, e não como circunstância passageira.

Ou ainda quando a cada dia as circunstâncias da vida nos surpreendem negativamente, promovendo a dor de várias situações, a maior parte das vezes inesperadas:


- a decepção,
- a sensação de errar, enganar, magoar,
- não amar o próximo,
- a perda de um amigo,
- a traição,
- a ingratidão,
- a perda das ilusões,
- a fome de amor,
- a falta de confiança no futuro,
- não reconhecer as lições do passado,
- o sonho estraçalhado,
- a angústia,
- a incerteza,
- a insatisfação,
- a amargura
- a falta de reconhecimento de nossos esforços,
- a perda de objetivos,
- a desesperança,
- a falta de uma oportunidade,
- a adversidade,
- a sensação do nunca mais...

Dentre todas essas circunstâncias, uma das mais importantes é o sentimento da mágoa, que quando se cronifica destrói até mesmo a razão. Sinal alarmante de desequilibro, pode determinar em quem a cultiva até enfermidades físicas ou psíquicas.
Uma vaidade ferida, qualquer sentimento não correspondido pode ser o ninho no qual se instala a mágoa, que como chaga cancerosa invisível, progressivamente se desdobra, terminando por corroer a saúde da alma.

Quase sempre faz-se acompanhar de outros sentimentos malévolos como a aversão, que estimulam o ódio, etapa crítica do processo destrutivo.

Levando-se em conta que o homem acaba sendo o resultado de sua vida ou saúde espiritual, é fácil entender que suas idéias e aspirações se constituam no campo vibratório onde seu espírito transita e também se nutre. Dependendo da qualidade dessas vibrações se concretizam ou não condições propícias para a instalação das dores da alma.

O melhor antídoto para a mágoa é o perdão. Citando Joana de Angelis “– o perdão beneficia aquele que perdoa, propiciando-lhe paz espiritual, equilíbrio emocional e lucidez mental. Felizes são os que possuem a fortuna do perdão para a distender largamente, sem parcimônia. O perdoado é alguém em débito; o que perdoou é espirito em lucro”.

A alma definitivamente sofre, é esmagada pela dor da perda de um filho. Ainda que no útero materno. Ainda que nunca reconhecido o sorriso de esperança ou nunca tenha acompanhado os passos dos pais. Pais que não foram preparados para sobreviver a morte de um filho. A perda maior. Não apenas a descontinuidade do próprio eu. Mas a dor dilacerante de um futuro que nunca se concretizará. Sonhos perdidos irremediavelmente. Perdas jamais esquecidas, porque nunca concretizadas. Um amor nunca desabrochado, retido indelevelmente pela ausência jamais compensada!















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(nova página)


Dores da alma e dores da família



“ Nenhum homem é uma ilha isolada. Cada um de nós é parte de um promontório ou um continente.”
John Done.




Todos fazemos parte de um promontório ou de um continente,ninguém está só ou vive só. Dependemos uns dos outros em cada momento de nossas vidas. E nos relacionamos tão intensamente que um não pode viver sem o outro. Esta é a chama da vida que por gerações tem alimentado o coração do homem. Mesmo que ele não creia nisto ou assuma alguma forma de solidão voluntária.

Esse tipo de dependência estabelece uma ordem de relacionamento baseado no amor ao próximo. Até mesmo em relação ao próximo desconhecido. Mas é sobretudo dentro da família que os sentimentos se emaranham definindo padrões de amor que transcendem até mesmo várias gerações.

As experiências negativas reconhecidas dentro de um sistema familiar podem marcar tão profundamente seus integrantes, que até seja possível uma repetição em gerações futuras que as revivem inconscientemente. Por exemplo se uma injustiça foi cometida em gerações anteriores, esta será representada e sofrida posteriormente por alguém da mesma família, como uma forma de restauração da ordem de relacionamento familiar.

Esta é a tese do psicoterapeuta Bert Hellinger, especialista em dinâmica dos sistemas de relacionamento família, e profundo conhecedor das forças que nele atuam. Oriundo de uma família católica, foi marcado pela SS, no tempo do nazismo, como "inimigo do estado", ainda muito jovem. Mesmo assim, foi convocado e serviu ao exército alemão. Capturado na Bélgica, posteriormente, fugiu e voltou para Berlim. Após esse evento, tornou-se padre católico trabalhando entre os zulus africanos, Lá, conheceu a dura realidade do apartheid, e trabalhou, favorecido pela visão mais aberta dos padres anglicanos, com dinâmicas de grupo. Mais tarde deixou a batina para se dedicar plenamente à terapia familiar, onde construiu a técnica de formação de constelações familiares.

A partir de uma nova abordagem da psicoterapia sistêmica tem procurado reconhecer ou tocar no amor que existe na alma, e nas dores da alma resultantes da falta desse amor. Ou dos desencontros e tragédias que desestruturam os sistemas familiares.

Alguns conceitos hellingerianos merecem destaque pela sua originalidade ou delicada percepção da realidade familiar.

A liberdade é essencial como prevenção das dores da alma. Em relação à liberdade, melhor dizendo ao livre arbítrio de cada um de nós sobre nossas condutas Bert afirma: - O ser humano não é livre. A liberdade é limitada. Pode ele trilhar vários caminhos diferentes, mas o fim de cada um deles é predeterminado. Por exemplo, regras básicas podem ser infringidas voluntariamente, contudo a vontade não tem poder de influenciar as consequências dessas infrações. As conseqüências são predeterminadas.

A felicidade é uma conquista da alma. A alma infeliz padece de dores que se repetem constantemente. Sobre ela escreveu Hellinger:
- A felicidade almejada pelo “eu” nos escapa com facilidade. Nós crescemos quando ela se vai. A felicidade da alma chega e permanece, cresce conosco.

Traduzindo – a felicidade se estabelece e se modifica dentro de cada fase da vida. Cada fase tem sua própria ordem de fatores, seu grau de sensibilidade e percepção. Seus próprios limites da satisfação. A criança é feliz no ventre da mãe. Depois isto não é mais suficiente: ela nasce e se aconchega no colo materno. Mais tarde também isto já não basta e ela caminha em busca de seu destino. Depois a curiosidade inquieta do crescimento, e a impaciente ânsia de liberdade da adolescência antecedendo a procura por uma profissão, novos compromissos, o casamento. Em seguida com os filhos tudo se renova e repete – sempre novas fases que se sucedem. Nas quais a felicidade sempre é procurada de forma diferente, e ligada sempre às condições de percepção de cada momento.







DORES DA ALMA E O IDOSO

Na sociedade e nos tempos atuais os mais jovens, qualquer que seja a idade, não tem mais tempo para os mais velhos. E estes se ressentem amargamente dessa condição, pois sua experiência de vida,a maturidade e o amor aos seus entes queridos mais jovens, somente fazem com que a ansiedade de tentar transmitir o que para eles é tudo de bom, resultem em frustração e aborrecimento.
Na realidade o idoso é como João Baptista, citado na Bíblia como a voz que clama no deserto. Não é ouvido, e nas raras oportunidades que os jovens lhes dão, são considerados ultrapassados, quando não repetitivos e desinteressantes.
A ironia maior é que os jovens de hoje serão idosos, e passarão pelos mesmos momentos,guardadas as diferentes épocas.
Ninguém gosta de envelhecer. A velhice dói. Não bastassem as alterações do corpo que limitam as funções individuais, pior ainda é a perseguição e discriminação social que todos sofrem ao demonstrar os primeiros sinais do envelhecimento.
Bem comparando, é o que sucede quando a sociedade percebe circulando nela, indivíduos trajados com vestes velhas, fora de moda opu desgastadas, ou mesmo dirigindo automóveis fora de linha, de potência menor, e que eventualmente não cedem passagem aos modelos mais novos e potentes. Nessas condições além do desprezo, o idoso sem qualquer culpa, a não ser a de existir, causa eventualmente ira e intolerância.
Esses fatos,tão comuns,geram uma progressiva insegurança no idoso, que a exemplo de conceitos da antiga Grécia, deveriam aguardar pela morte, e assim ceder caminho para a progressão dos mais jovens.
Entretanto nada mais enganoso e acomodado do essas idéias. Ser velho não deve significar ser fraco ou mesmo uma pessoa cansada., fragilizada. O envelhecimento é necessário, para que a sabedoria e a experiência acumulada possam auxiliar o desenvolvimento das novas gerações.
Mesmo se elas ainda não perceberem que sua própria sobrevivência dependerá de uma redefinição de suas próprias condições de envelhecimento. Da mesma forma que a sociedade industrial não pode prescindir da natureza, a sociedade atual tecnocrata e informatizada não pode nem deve deixar de considerar a experiência dos idosos, em termos de sabedoria e autoconsciência.
Em verdade caso se perpetuem as condições até humilhantes infringidas aos idosos, geralmente excluídos socialmente da comunidade, e considerados de mentalidade estreita, conservadora e pessimista. Isto resultará progressivamente em um clima de temor e insegurança em relação ao futuro.
A geração atual tem mantido um culto extremado pela juventude e pela beleza, manifesto seja nas expressões da arte, da propaganda, da promoção social e como demonstrativo dos padrões de melhor qualidade de vida. Com isso, cria-se uma velhice de imagens sombrias, ironicamente cada vez mais próxima dessa geração, e cada vez menos concordante com a realidade mundial de nossos dias.
Eis porque em geral as pessoas tentam camuflar a progressão da idade, seja com procedimentos cosméticos, seja através da cirurgia plástica, prática de esportes, alimentação saudável e de uma medicina preventiva atuante.
Isto fez com que nos dicionários mais completos o número de verbetes médicos nos últimos cinco anos relacionados de algum modo ao envelhecimento aumentasse em 40%.
Na realidade imprime-se hoje o conceito de que envelhecer é uma condição capaz de nos trazer vergonha. Daí a ausência de idosos na maioria dos programas de televisão, cinema e propaganda. Tal qual a quarentena de uma doença contagiosa.
Ao invés de ser avaliado e valorizado como uma notável experiência interior, o envelhecimento ainda é considerado um tabu social.
O antagonismo do jovem em relação à velhice já é introduzido desde a tenra infância, quando a mente das crianças já é povoada de imagens em contos de fadas e histórias infantis, com velhos que passam a imagem de medo, quando não terror ás crianças. Lembrem-se das histórias de João e Maria, Rapunzel, Moura-torta e Branca de Neve. Nelas as crianças aprendem que o Mal pode geralmente assumir a condição de um velho, que necessita ser evitado e combatido.
Mesmo assim, progressivamente com o aumento da expectativa de vida, as populações estão envelhecendo,e os idosos tem se tornado uma significante parcela da população, e interferindo por um período maior nas condições de vida das populações. Muito tem contribuído para isto a aceleração da tecnocracia no campo das comunicações humanas.
A internet e as redes sociais tem ampliado a participação do idoso, seja no resgate de suas lembranças, seja na aquisição de conhecimentos através de uma estratégia mais fácil e lúdica.
Uma outra comparação, simples, contudo extremamente alentadora em relação à prospecção do futuro nos idosos foi atribuída e Richard Gott, astrofísico que teve a oportunidade de visitar o Muro de Berlin e o secular círculo de pedra de Stonehenge. Comentando sobre a transitoriedade do Muro de Berlin, apesar de seu intenso significado de discriminação social e étnica, pronunciou-se dizendo “ tudo que existe por um período de tempo suficientemente longo, terá chances cada vez maiores de existir por mais tempo que aquilo que existe há menos tempo.”
A Ciência já demonstrou através de evidências formais, válidas para o século XXI, que os indivíduos que atingem idades mais avançadas (90 anos) podem se mostrar mais lúcidos e criativos do que quando tinham 80 anos. Também que a mortalidade do ser humano até pode se tornar menor, à medida que a idade avançada passa a ser ultrapassada.
Frank Schirrmacher, a partir desses conceitos, enfatiza que a grande missão do homem é envelhecer. Devemos todos aprender a chegar com harmonia , e ultrapassar com esperança os 50, 60 e 70 anos.
Deve-se procurar viver o envelhecimento sem emudecer. Sem deixar de participar.
Os obstáculos são muitos. A sociedade que crê poder definir o quanto uma pessoa pode ou não trabalhar em função do avanço de sua idade, o seu próprio reflexo no espelho e os momentos de fadiga mental.
Não se deve dar tanta importância à imagem espelhada que nos revela alquebrados e feios. Ou aos momentos de ausência nos quais o cérebro nos parece falhar porque senil. Não se pode desperdiçar os recursos intelectuais e emocionais remanescentes, pois sempre estes serão de grande utilidade.
A Cultura do idoso reflete a História do próprio Homem:quando os músculos se enfraqueceram demais, criou-se a roda; quando o cérebro se tornou mais lento, surgiu o computador; e a solidão, quando tingiu a alma de cores acinzentadas, a Arte se mostrou capaz de lhe trazer as cores da Natureza.
Os sonhos não devem ser aposentados. Muito menos compulsoriamente. O idoso enquanto mantiver seus sonhos será imortal.

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