sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A dor motivando o Homem a buscar o seu destino

As dores da alma não se conceituam, nem podem ser definidas. Só as reconhece quem as sente. Só as sente, quem vive cada momento em toda a sua grandeza. Um momento pode representar uma eternidade. Um só minuto pode conter toda uma vida.

As dores da alma nos atingem quase sempre de surpresa. Portanto não há como preveni-las. E quando elas nos tomam, mal reconhecemos nossa condição humana, pois sua intensidade é tal que perdemos a noção do real e do imaginário.

O prazer e a dor, aquele como expressão máxima do bem estar, são sensações igualmente intensas e avassaladoras. O êxtase reconhecido em polos opostos: positivo e negativo. Definidos conceitualmente por limites imprecisos, dado que se constituem em sensações tão próximas. Tão incoerentemente separadas por algo tão minúsculo quanto uma vírgula.

E ao longo de nossas vidas a dor e o prazer se repetem, alternando-se incessantemente. Em todas as idades, em todas as fases. Uma sucessão de experiências, sentimentos que aos poucos constroem o mosaico de nossa memória. Esta, a reserva moral de nossos atos. Também a energia que impulsiona o direcionamento de nossas vidas. Em todas as nossas renovadas existências.

Quem somos e para onde vamos. O destino do homem. Indagações que perseguem o ser humano desde seus primórdios. A longa caminhada do homem na Terra, construindo os alicerces da civilização moderna, desenvolvendo uma tecnologia de ponta, cada vez mais globalizada tem permitido uma compreensão melhor da vida. Uma compreensão dos aspectos biológicos, sociais e do cenário material em que o homem se desenvolveu.

A evolução progressiva do espírito humano permitiu o controle de todas as diferentes formas de energia: ar, terra, água, fogo. E a partir daí o reconhecimento do cosmos, a interpretação do universo dentro de si mesmo, e contido em outros ainda não explorados. Exemplos de que a busca ainda está longe por terminar.

Cada etapa do conhecimento humano representa apenas uma partícula cósmica. Importante, contudo apenas o fragmento de um enigma a ser decifrado em um futuro ainda indeterminado.

Quanto mais procuramos o entendimento da razão ou as verdades científicas, cada vez mais nos deparamos com uma tortuosa e infinita muralha da China, onde cada progresso ou passo científico representa apenas um pequeno tijolo assentado.

Mas afinal, o que é que se procura: construir a muralha ou dominar os procedimentos e estratégias da construção?

A construção do futuro do homem deve se iniciar pelo reconhecimento do próprio homem como unidade da criação racional.

Estímulos os mais variados podem afetar também positiva ou negativamente o universo animal, vegetal e mineral. Mecanismos de defesa podem ser desencadeados. Até camuflagem de formas, contornos e cores podem ser induzidos. Até onde vai o instinto de autodefesa ou o de proteção da prole? O que é o instinto – uma forma primária e rudimentar de um comportamento racional?

A dor física pode ser produzida por vários tipos de estímulos. O instinto de proteção desenvolvido por algumas formas animais, ou ainda as armadilhas acionadas por plantas carnívoras, aprisionando e digerindo suas presas, podem se aproximar do tipo de estímulo que resulta na dor física?

Que tipo de estímulo leva o pássaro a alimentar seus filhotes no ninho? Ou que leva a fêmea a proteger suas crias até mesmo do macho com o qual se acasalou? Que leva uma fêmea a amamentar um filhote desconhecido e a agasalhá-lo como se fosse seu?

São essas manifestações do instinto ou de algo que se aproxima do conceito humano de alma? E se assim for, sofrerão também os animais as dores da alma?

Com todo o seu progresso vertiginoso, a ciência baseada em evidências não tem resposta para essas perguntas.

Nem mesmo para a demonstração formal da existência da alma. Muito menos ainda para o reconhecimento e interpretação das dores da alma.

Estas devem ser pressentidas através da crença em sua existência, e da sensibilidade de quem crê ou deseja crer.

As evidências formais devem justificar a essência de fatos e conceitos, mas também devem ser consideradas as experiências pessoais, reconhecidas pela exploração da sensibilidade individual.

Apenas a investigação experimental, constituída pela repetição sistemática e observação de eventos repetidos, se é necessária para a definição de resultados, nem sempre é suficiente para a solução de alguns problemas. Grandes descobertas foram resultantes do acaso e da sensibilidade do investigador em aceitar o desconhecido ainda não demonstrado por evidências formais. Por exemplo, a descoberta da penicilina por Alexander Fleming, fruto da observação, sensibilidade ou crença desprovida de evidências demonstrativas?

Cristóvão Colombo acreditou, sem evidências concretas, que a Terra era redonda. É certo também que se baseou em conhecimentos posteriormente atribuídos a Roger Bacon. Que também não dispunha de evidências formais. Baseava-se apenas na crença.

  ( CONTINUA )

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