sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A Dor como instrumento de purificação religiosa na Idade Média e no Renascimento

Durante toda a Idade Média a civilização atravessou uma longa fase de adormecimento cultural, onde o conhecimento humano ligou-se essencialmente ao sentimento religioso, quando não, mágico e mítico.

Embora a era medieval seja um período histórico muito definido ( desde o fim do Império Romano até a queda de Constantinopla em 1453), o espírito medieval atravessou as épocas posteriores.

Nesta época a tortura e o sofrimento infringido ao corpo humano eram considerados instrumentos de purificação da alma. Algumas técnicas de torturas medievais, tais como empalamento, esfolamento, perfuração, despedaçamento, ingestão de água fervente, e evisceramento, dentre outras, tinham como objetivo prolongar indefinidamente a dor e agonia, marcando indelevelmente a alma do supliciado.

A purificação da alma exigia o sofrimento físico e também o da alma. Assim procedia a Igreja, na época poder mais temporal do que espiritual. E para mantê-lo,criou a Santa Inquisição, cujas atrocidades cometidas em nome da consagração da alma, até hoje são repudiadas como o mais negro período da história da religião.

O próprio destino, ou melhor a realidade histórica, contribuiu para que o período medieval fosse irremediavelmente doloroso para o homem.

Em meados do século XIV, a peste negra devastou a população europeia. Calcula-se que aproximadamente um terço dos europeus morreu nesta época, seja pela doença, seja pela fome.
A peste responsável pela epidemia do século XIV surge durante o cerco às colonias de Génova e Caffa, na Crimeia, atual Ucrânia, em 1347 pelos tártaros descendentes dos mongóis, na época auxiliados pelos venezianos. A doença matou tantos tártaros que foram obrigados a levantar o cêrco e retirar-se, não sem antes contaminar a cidade. Os habitantes, ceifados pela epidemia, tiveram que ser queimados em piras, já que não havia mão de obra suficiente para enterrá-los.
Constantinopla teria sido infectada na mesma época. Vários navios genoveses fugiram da peste, indo atracar nos portos de Messina, Génova, Marselha e Veneza, com os porões cheios dos cadáveres dos marinheiros e infestados de ratos.
A peste bubônica era causada pela bactéria Yersinia pestis, transmitida ao homem através das pulgas (Xenopsylla cheopis) dos ratos-pretos (Rattus rattus) ou outros roedores, que chegavam à Europa nos porões dos navios vindos do Oriente.

Bocaccio (1313- 1375) importante humanista florentino, autor de um número notável de obras, incluindo Decamerão, o poema alegórico Visão Amorosa (Amorosa visione) e De claris mulieribus, uma série de biografias de mulheres ilustres, descreveu assim os sintomas da peste: "Apareciam, no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou nas axilas, algumas inchações. Algumas destas cresciam como maçãs, outras como um ovo; cresciam umas mais, outras menos; chamava-as o povo de bubões. Em seguida o aspecto da doença começou a alterar-se; começou a colocar manchas de cor negra ou lívidas nos enfermos. Tais manchas estavam nos braços, nas coxas e em outros lugares do corpo. Em algumas pessoas as manchas apareciam grandes e esparsas; em outras eram pequenas e abundantes. E, do mesmo modo como, a princípio, o bubão fora e ainda era indício inevitável de morte, também as manchas passaram a ser mortais".

As cidades medievais tinham condições higiênicas e sanitárias extremamente precárias, e assim, os ratos se espalharam facilmente. Após o contato inicial os enfermos tinham poucos dias de vida. Febre, mal-estar e bolhas de sangue e pus espalhavam-se pelo corpo, principalmente nas axilas e virilhas.

Este intenso sofrimento físico e espiritual, como ocorre sempre nas rtelações humanas, trouxe oportunidades para que os sobreviventes do povo, pequena nobreza e burguesia se aproveitassem da desdita, adquirindo ou aumentando sua riqueza, provavelmente pela usurpação dos bens dos falecidos,ou ainda por aumento dos salários, devido à diminuição da mão-de-obra e descida dos preços das terras e das rendas.

Também nessa época, como reação social e cultural à peste, as perseguições às minorias aumentaram drasticamente, e especialmente contra os judeus. O fanatismo religioso que se apossou das populações aterrorizadas em muito contribuiu para a acusação e perseguição ao povo hebreu. E com isso, determinando em meio às atrocidades físicas, imenso sofrimento moral.
Os judeus tornaram-se suspeitos quando, devido ao cumprimento rigoroso das leis talmúdicas de higiene e também pela maior competência dos médicos judeus, as suas vítimas foram menos numerosas que as das comunidades cristãs.
Os cristãos se amotinaram, facilmente incitados pelos cléricos locais, promovendo mais de 150 massacres. Dezenas de comunidades judaicas menores foram exterminadas, e essa perseguição promoveu sua emigração em massa para a Polónia e para a Rússia.
Embora não haja qualquer relação entre hanseníase e a peste bubônica, os leprosos também foram perseguidos, culpados como os judeus de disseminar a doença. E também inclementemente perseguidos.
A partir dessa concepção da enfermidade estar ligada à punição divina, vários movimentos religiosos surgiram do terror que alimentava o misticismo e descredibilizava as formas religiosas mais tradicionais.
Um desses movimentos – os flagelantes – acreditava que a auto-martirização e dor física, purificando a alma, eram medidas preventivas para a peste, enquanto acirradamente se lançavam a uma fanática perseguição fanática aos judeus, leprosos e outras minorias.
Contudo, em meio à dor e à irracionalidade, muitos médicos, ainda sem qualquer conhecimento em relação à peste, se dispuseram a atender os enfermos, ainda que com risco da própria vida. Adotavam para isso roupas e máscaras especiais para evitar a contaminação. Prescreviam à distância e lancetavam as lesões com facas de até 1,80 m de comprimento.


Da Península Itálica, a peste espalhou-se pelo resto da Europa, atingindo a Grã-Bretanha e Portugal em 1348 e finalmente a Escandinávia em 1350.
Algumas zonas foram inexplicavelmente poupadas, como Milão e a Polônia, fato que reforçava a crença de que a doença era atribuída à punição divina, principalmente quando a população se afastava das práticas religiosas ou das pregações da Igreja.
Foi somente no século I é que Rufus de Éfeso, um médico grego, elaborou uma descrição mais clara de peste na Líbia, Egipto e Síria. Descreveu os bubos duros, febre alta, dor e delírio já relatados pelos seus colegas Dioscorides e Posidonius nessas regiões.
Entretanto, O primeiro investigador a considerar a peste negra uma doença infecciosa foi Rhases, um médico árabe, no século X. As primeiras medidas eficazes de saúde pública foram tomadas nos portos do Mediterrâneo. Estas consistiram em evitar que os navios vindos do Oriente ancorassem nos portos, decretando períodos de quarentena. Migraçõesentre as diferentes cidades tambémforam proibidas, mantendo-se um período de quarentena de pelo menos 60 dias, nos quais as pessoas deveriam provar que não estavam infectadas.

Não bastassem as decorrências da peste e outras doenças, a Medicina da Idade Média era extremamente precária, dado que a própria investigação anatômica já era considerada uma forma de heresia, condenada pela Igreja e dramaticamente perseguida pela Inquisição. Essas instituições atrasaram secularmente o desenvolvimento da arte médica na Europa.

Este fato explicava porque os cirurgiões da época quase desconheciam totalmente a anatomia humana, nada sabiam sobre antissépticos, que fizessem com que as feridas não infeccionassem, e sobre anestésicos. A analgesia era provocada geralmente por procedimentos que provocassem outra dor maior.

No período medieval, na maioria dos casos, monges se tornavam cirurgiões, já que eles eram os únicos a ter acesso à literatura sobre medicina. No entanto, em 1215, um decreto papal proibiu esse tipo de atividade, que passou a ser feita por camponeses, pela sua experiência em tratar os animais.

Por isso a cirurgia na idade média era usada somente em casos extremos de vida ou morte. Não havia anestésico “confiável” que pudesse aliviar a dor de qualquer procedimento cirúrgico. Algumas poções usadas para amortecer o paciente ou induzir o sono podiam ser letais. Por exemplo, o Dwale, uma mistura de suco de alho, suco de cicuta, ópio, vinagre e vinho que era dado ao paciente antes de uma cirurgia. Eventualmente provocava parada respiratória e morte.

Tratamentos medievais, normalmente, eram uma mistura de fatos baseados em uma observação científica precária e incipiente, associada a crenças pagãs e imposições religiosas. As maiores contribuições àmedicina da época vieram do Oriente através dos navios que atracavam em Veneza.

Quando alguém contraía a peste bubônica, deveria passar por um período de penitência e absolvido por um padre. Como a doença era vista como um castigo de Deus, se o paciente admitisse seus pecados, talvez sua vida fosse poupada.

A sífilis e outras enfermidades sexualmente transmissíveis ainda praticamente desconhecidas como doenças infecciosas, eram consideradas como relacionadas a distúrbios da moralidade e da alma. Como causavam com frequencia bloqueio do fluxo da urina, inseria-se, como tratamento, um tubo de metal na bexiga através da uretra, causando namaioria dos casos mais prejuízo que recuiperação, isto por volta do ano 1300.

Os médicos da Idade Média achavam que praticamente todas as doenças eram causadas por excesso de líquido no corpo. Então a solução eram as sangrias - tirar o sangue dos pacientes. Ou usando sanguessugas ou lancetando os vasos superficiais do braço.

A gravidez era tão mortal que a Igreja pedia que as grávidas se preparassem espiritualmente para morrer no parto. Em várias regiões parteiras mais experientes foram perseguidas como bruxas, já que usavam métodos para aliviar a dor de suas pacientes. Quando um bebê estava morto no útero, uma faca era usada para que ele fosse desmembrado ainda na barriga da mãe, para facilitar a retirada do feto.


Não é portanto exagerado afirmar que na Idade Média dores da alma e dores físicas coexistiram quase continuamente. Interando-se ou até justificando-se mutuamente.
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Entretanto a redenção deste entendimento pobre e sofrido da alma humana, conduzida a dores extremas, chega com o Renascimento.

Este fundamentou-se no humanismo, na valorização de matérias que envolviam a vida humana, como matemática, física, línguas, história, astronomia e filosofia.

Ressurge a paixão pelos clássicos gregos e a valorização das qualidades humanas. Mantendo a idéia da criação divina do homem e da terra, mudou, entretanto, o conceito de que a terra fosse um local de sofrimento, como no pensamento medieval.

O Renascimento foi um movimento urbano, visto que foi efetivamente apoiado pelo pensamento burguês, sem se apoiar no da Igreja, na época retrógrada e discriminatória.

Era a expressão do povo que habitava as cidades livres. Os primeiros focos renascentistas foram nas cidades italianas: Veneza, Pisa, Gênova e Florença, que viviam principalmente do comércio. Estas cidades receberam uma forte influência dos sábios bizantinos, que haviam fugido de Bizâncio, devido aos conflitos religiosos, entrando na Europa através de Veneza.

Em 1450, Johannes Gutenberg, criou a impressão mecânica, através do uso de tipos móveis de metal. Essa invenção facilitou a democratização do acesso ao conhecimento através dos livros, já que até então toda a cultura era transcrita em pergaminhos pelos copistas medievais, monges que, reclusos em mosteiros desenvolviam trabalho artesanal primoroso, contudo, lento e de acesso apenas para os ricos e poderosos.

E então na aristocrática Florença, na fase pré renascentista, Dante Alighieri – a voz dos séculos silenciosos, o primeiro e maior poeta da língua italiana, na escuridão cultural da Idade Média – magistralmente descreveu o sofrimento e a dor na Divina Comédia, em todos os nove círculos de seu Inferno, associando também o sofrimento físico à agonia e à dor espiritual.

Redigido entre 1307 a 1321, o poema mostra o poeta perdido na selva do pecado, sendo guiado pela razão (personificada por Virgílio, o poeta grego) nos três reinos do Além, percorrendo um a um os nove círculos do Inferno, reconhecendo toda a dor contida em cada um, para depois se penitenciar no Purgatório, e, resgatado pela fé e pelo amor, ser conduzido aos nove céus concebidos por Ptolomeu. Uma simbólica escalada rumo à esperança, descrita em uma obra prima da literatura, repleta de ricas metáforas, mesclando significados metafísicos, políticos e sociais.

Estruturalmente composto por cem cantos, com versos apresentados em tercetos, revela fielmente a força da dor alegoricamente descrita nos castigos infernais.

Pessoalmente Dante conheceu intimamente as dores da alma. Enamorou-se perdidamente de Beatrice Portinari, para quem escreveu os mais belos versos de amor da época, amor platônico que o acompanhou durante toda a vida.

A partir das luzes do Renascimento a tradição da linguagem escrita se impõe, e a divulgação das diferentes doutrinas espirituais se populariza, sempre de alguma maneira procurando ligar a figura da divindade e seu relacionamento com os homens, através de dois sentimentos: amor e dor.

Mas toda a reestruturação do conhecimento humano produzida pelo Renascimento, que em sua evolução promoveu a cicatrização, ainda que incompleta, das dores da alma intensificadas na Idade Média, não foi desprovida de sacrifícios.

Principalmente porque os procedimentos inclementes do Santo Oficio e da Contra Reforma implacavelmente promoveram uma onda de sacrifício de vidas somente ultrapassada pela peste negra. E fundamentalmente apoiada apenas pela intolerância religiosa.

De grande importância na época para o desenvolvimento do conhecimento humano surgiram os mecenas, nobres ricos que patrocinavam os artistas renascentistas. Seja como forma de ajuda, investimento pessoal ou para adquirir prestígio social. Alguns mecenas destacados foram: os Médicis em Florença e os Sforza em Milão.

Lourenço de Médici (Florença,1449–Careggi1492): estadista italiano, administrador da República de Florença durante o Renascimento italiano, notabilizou-sepor atuar como diplomata, político e patrono de acadêmicos, artistas e poetas, exatamente por isso conhecido como Lourenço, o Magnífico, e um dos pilares do movimento enascentista na Itália.

Sua morte marcou o fim da chamada Idade de Ouro de Florença. Depois de sua morte a frágil paz que ele ajudou a construir entre as diversas cidades estados italianas entrou em em colapso.

Mesmo assim sua administração não foi pacífica. O papa Sisto IV,inimigo da familia Medici,instigou através dos sues banqueiros –os Salviatti – uma conspiração liderada pela familia Pazzi. Foi feito um plano para matar os dois irmãos Médici no Duomo de Florença, durante a missa, em 26 de abril, um domingo de Páscoa. Juliano morreu, Lourenço escapou, embora ferido, salvo pelo poeta Poliziano, que o trancou na sacristia.

Francesco Salviatti, arcebispo de Pisa, ao cabo da mal sucedida conjura, acabou sendo com seus aliados linchado pela população florentina. Pela morte de Salviatti e dos Pazzi um decreto papal interditou a cidade de Florença. Mas a coragem e o talento diplomático de Lourenço, expondo sua própria vida, fizeram com que seus opositores Fernando I, rei de Nápoles e o próprio papa aceitassem uma paz que mantinha Florença ainda em uma posição de dignidade e favorecedora da manutenção de uma república governada por cidadãos livres e iguais.

Verdadeiro mecenas, foi o impulsor da primeiras imprensa italiana, que disseminou democraticamente o movimento renascentista. Este rejeitava a ciência escolástica ( fusão do aristotelismo com a teologia da época ) para valorizar a pesquisa e a busca do sentido da vida, colocando o homem no centro do Universo ( humanismo clássico).

Seu palácio tornou-se o centro cultural, resgatando a arte antiga greco-latina e promovendo o florescimento da cultura renascentista. Os maiores artistas, cientistas e literatos frequentavam a sua corte. Mas Lourenço também participava ativamente como escritor e pota de recursos consideráveis. Os filósofos Marsílio Ficino e Pico della Mirandola, os poetas Pulci e Poliziano e grandes artistas como Botticelli e Ghirlandaio, eram seus hóspedes habituais. Até mesmo Michelangelo iniciou seus estudos nos ateliês patrocinados por Lourenço.

Toda essa ativa proteção e estímulo às artes do Renascimento, e também pelas festas suntuosas e gastos excessivos puseram em perigo a fortuna dos Médici, e despertando a ira de Jerônimo Savonarola.

Dotado de grande inteligência, governou em um clima de prosperidade pública, aumentando a influência de sua família por toda a Itália, e manteve as instituições republicanas em Florença, ainda que só na aparência. Na verdade, Lourenço foi virtualmente um tirano. Utilizava-se de espiões, interferia na vida privada dos cidadãos mas conseguiu levar o comércio e a indústria de Florença a um nível superior ao de qualquer outra cidade da Europa.

Girolamo ou Jerônimo Savonarola (Ferrara 1452 — Florença, 1498),reformador dominicano veio de uma antiga e tradicional família de Ferrara, tendo devotado sua vida aos estudos da filosofia e medicina. Sentindo profundamente a perda de valores religiosos, trazida pela ideologia do Renascimento, ao mesmo tempo por um zelo intenso para com a salvação das almas, dispos-se a arriscar tudo a fim de combater as fraquezas humanas. Criticava ferozmente a imoralidade, a vida de prazeres dos florentinos, exortando a população para retornar à vida pautada na virtude cristã. Seus sermões e sua personalidade causavam um profundo impacto na população.

Intensificou suas críticas voltando-as contra os abusos na vida eclesiástica da época, da imoralidade de grande parte do clero e muitos membros da Cúria romana, príncipes e cortesãos. O papa para fazer calar o inconveniente pregador, ofereceu-lhe o título de de cardeal.

Mas isso não era nenhum atrativo para Savonarola. Recebeu o oferecimento com indignação, e declarou que o único barrete encarnado que ele ambicionava era aquele que fosse tinto com o sangue do martírio.

Passou a denunciar os crimes do Vaticano, através de sermões apaixonados e apaixonantes que motivaram como reação da Igreja sua excomunhão, e posteriormente sua prisão e morte. Foi condenado à morte em 1498, torturado e, em 25 de maio, morreu queimado na Piazza della Signoria em Florença. Constituiu-se em um dos maiores precursores da Reforma Religiosa ( século XVI).

O grande mártir do Renascimento foi Giordano Bruno (1548-1600). Ingressou na Ordem Dominicana onde estudou profundamente a filosofia de Aristóteles e de São Tomás de Aquino, doutorando-se em Teologia.

Foi o primeiro filósofo a afirmar que deveria haver vida em outros lugares do Universo,baseado no atomismo de Demócrito. Filósofo, astrônomo e matemático foi um dos maiores pensadores do século XVI e um dos precursores da ciência moderna.

Expulso da ordem dos Dominicanos por suas idéias conflitantes com a ortodoxia religiosa, disseminou-as por toda a Europa. Sempre contestador, não tarda a atrair contra si próprio opiniões contrárias e perseguições.

Suas teorias chocavam-se contra o antropomorfismo e a Santa Trindade, principais dogmas do catolicismo, pelo que foi acusado de heresia.
Inicia, então, uma peregrinação que marcou sua vida, visitando Gênova, Toulouse, Paris e Londres.

Suas idéias metafísicas eram monistas e imanentistas, admitindo que acima de um deus imanente (a "alma do mundo"), haveria um deus transcendente, só apreendido pela fé, mas uma fé inteiramente naturalista, bem diversa da fé católica da época.

Ao contrário do que se pensa comumente, Giordano Bruno não foi queimado na fogueira por defender o heliocentrismo de Copérnico. Sua luta política voltava-se para o estabelecimento de uma sociedade pacífica, com a união entre os cristãos católicos e protestantes.

Propunha um “novo homem”, marcado pela liberdade de pensamento e pela tolerância religiosa.

Um dos pontos chaves de sua teoria é a cosmologia, segundo a qual o universo seria infinito, povoado por uma infinidade de estrelas como o Sol com outros planetas como a Terra contendo igualmente vida inteligente.
Por estas opiniões quentes e perigosas para a época, Giordano Bruno foi condenado pela Inquisição.

No último interrogatório, não se submetendo à intransigênciada Inquisição, e, mostrando força e coragem, por não abjurar, é condenado à morte na fogueira, com tábua e pregos na língua, para parar de blasfemar. Afinal, além de um espirito privilegiado, possuia o perigoso dom da eloquëncia.


Mas calar a voz de Giordano Bruno nao foi suficiente para interromper a escalada do Homem em busca de um ideal de progressão espiritual.
Essa progressão fundamentou-se principalmente nos exemplos da extrema dedicação a um ideal construtivo, quase sacrifício, de Buda, Maomé, Jesus Cristo, dos apóstolos e mártires do Cristianismo.

Através desses exemplos a dor tornou-se, não mais o instrumento da punição divina, não mais o resgate de opiniões criticadas pela intransigência da Igreja, mas agora da purificação espiritual, através do poder do amor universal.

Esse entendimento permanece até os dias atuais.

E desta maneira, porque não, até um caminho paradoxal para o prazer...


( CONTINUA )

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