quinta-feira, 12 de julho de 2012

LEDERMAN - AMIGO INESQUECÍVEL!

Conheci Rubem Lederman nos primeiros anos da década de 70. Era eu recém- formado, fazendo um curso de especialização no Serviço de Reumatologia do Hospital Escola São Francisco de Assis, no Rio de Janeiro, serviço do professor Israel Bonomo. Rubem Lederman trabalhava então em um dos principais serviços de Reumatologia do Rio de Janeiro, o do Hospital dos Servidores do Estado, chefiado pelo professor Luiz Verztman. Ambos os serviços disputavam na época a primazia de se constituírem no melhor núcleo de formação de reumatologistas do Brasil. Inicio este depoimento assim, porque entre ambos os serviços havia uma bizarra e arraigada beligerância política. E mesmo assim, Rubem Lederman, então presidente da Sociedade de Reumatologia do Rio de Janeiro, em 1974, acolheu-me generosa e carinhosamente, apesar não ser eu carioca, e estar sendo treinado na época pelo serviço religiosamente rival. A partir daí iniciou-se uma amizade que perdurou por quase 40 anos. De todo esse período trago as melhores e mais benfazejas lembranças do meu amigo Rubem. Pernambucano de origem, nascido no dia dos namorados, talvez até por isso tenha desenvolvido uma personalidade afável e sempre com muito humor. Graduou-se em Medicina em Pernambuco e fez sua residência em Reumatologia no próprio Hospital dos Servidores do Estado. Progressivamente participou com dedicação na estruturação do serviço, auxiliando a formar uma plêiade de especialistas em Reumatologia, sempre procurando somar competência, desenvolvimento cultural e o humanismo que todo médico deve trazer em sua essência. Assumiu durante toda a sua atuação no hospital um verdadeiro espírito universitário, transmitindo a cada um de seus residentes o que possuía de melhor: um acurado espírito de análise clínica, associado a um sedutor e convincente método de abordagem de cada paciente, tornando-se quase de imediato o médico acolhedor e atencioso, o que lhe valeu alentado sucesso como médico, sempre admirado por todos os seus pacientes. Naturalmente evoluiu na escalada societária e quase naturalmente, por todos os méritos chegou à presidência da Sociedade Brasileira de Reumatologia de 1982 a 1984, notabilizando-se por sua dedicação aos projetos de desenvolvimento das sociedades regionais, através da execução sistematizada de encontros e jornadas que tiveram o mérito de desenvolver a especialidade, levando-a a um estado maior de reconhecimento no meio médico, fazendo com que a Reumatologia se destacasse como sociedade dinâmica e progressista. Não parou aí. Projetou-se na esfera internacional, tornando-se por sua sociabilidade o reumatologista brasileiro mais reconhecido, primeiro na América Latina, e posteriormente ganhando a simpatia e amizade dos principais reumatologistas europeus. Ao assumir a presidência do Comitê Íberoamericano de Reumatologia, transformou- o, enquanto sob sua responsabilidade, no período de 1990 a 1998, em importante órgão intercontinental de divulgação da Reumatologia nos dois continentes. Seus esforços e seu comportamento sempre amistoso conseguiram aproxima em muito a reumatologia de Portugal da brasileira. Graças a esse seu poder de persuasão e magnetismo pessoal, também em muito auxiliou o Brasil a realizar o XVII Congresso da Liga Internacional de Reumatologia a ILAR, no Rio de Janeiro, em 1989, até então o maior evento de Reumatologia realizado na América Latina. Sem dúvida uma tarefa hercúlea, realizada em harmoniosa integração com Hilton Seda e Wiliam Chahade. Posteriormente foi eleito Presidente da Academia Brasileira de Reumatologia na qual durante o biênio 1982 a 1984 assumiu denodadamente a tarefa de renovar a Academia, tornando-a sede de um pensamento reumatológico ecumênico e progressista. Dotado de clarividente espírito inovador, percebeu que havia um território cultural muito importante e praticamente inexplorado, o universo das doenças osteometabólicas, principalmente a osteoporose. A partir de então lançou-se de corpo e alma a integrar o Brasil nos principais movimentos internacionais de divulgação da osteoporose, que iniciava a constituir-se nos países emancipados um grande problema de saúde pública. Dedicou-se a pontuar o Brasil na International Osteoporosis Foundation, e esses esforços resultaram na fundação da Sociedade Brasileira de Osteoporose, a SOBRAO,pioneira na tarefa de democratizar e integrar essa enfermidade em todas as outras especialidades médicas, tornando-a efetivamente multidisciplinar. Mais uma vez repartiu com o grande amigo Hilton Seda a tarefa de presidir as duas primeiras gestões(1999). Sua ligação com a empresa farmacêutica credenciou-o a assumir também o papel de assessor e conselheiro competente e sempre sincero de inúmeros programas de validação de agentes terapêuticos ou seu lançamento no mercado brasileiro. Em 2007, mais uma realização de vulto a fundação da FENAPCO, Federação Nacional das Associações de Pacientes Com Osteoporose, com o objetivo de melhor assistir ao paciente osteoporótico, criando melhores condições principalmente para a prevenção da enfermidade. No recesso da família Lederman, marido e pai amantíssimo, sempre teve na companheira Paulina o maior de seus apoios, e sempre seu grilo falante, sempre atenta e amorosa, balizando as tiradas sempre espirituosas do marido. Suas filhas e netos eram ultimamente seu assunto preferido, demonstrando todo o carinho que emanava de seu grande coração. Lederman era um excelente e espirituoso contador de histórias. Nunca conheci outro melhor. Era continuamente solicitado a contá-las, e a cada vez que as repetia sempre introduzia novos detalhes bizarros que as tornavam irresistivelmente engraçadas. Lederman nos deixou muito cedo. Discreto como sempre foi com tudo que lhe era essencialmente pessoal. A Reumatologia Brasileira já não será mais a mesma. Perdeu parte de seu humor, muito de sua história. Eu, perdi um amigo. Generoso, sempre se preocupou com meu desenvolvimento profissional, e mais ainda com a intimidade de minha vida familiar, aconselhando- me carinhosamente sempre a seu modo peculiar. Foi-se o homem. Ficou sua sombra e a memória. Ficaram seus ideais. Que deverão servir para o desbravamento de novos caminhos. Exemplos que certamente deverão também alimentar as novas gerações de reumatologistas. João Francisco Marques Neto

Nenhum comentário:

Postar um comentário